FILOSOFIA DE ATAQUE
Sou um razoável consumidor de livros que retratem biografias de pessoas e/ou instituições. Sempre que posso e a figura central me interesse, disponibilizo algum tempo e dinheiro para saber até que ponto o sucesso do retratado foi conseguido e de que forma o fez.
No futebol, em particular, desde que surgiram nas bancas os famosos livros sobre treinadores e jogadores não pensei duas vezes e aos poucos fui lendo, atenciosamente, o conteúdo dos livros sobre Luís Figo, Mário Jardel, Lazlo Bolöni, Deco e, mais recentemente, José Mourinho.
Este último sobre o treinador do FC Porto despertou-me muito mais atenção ao ponto de o ler demoradamente. A escrita é redigida de uma forma pormenorizada como se de um romance se tratasse. De certa forma, este livro conseguiu de algum modo modificar um pouco a minha opinião que tinha sobre Mourinho.
Não é fácil a um treinador sem experiência de líder de um equipa técnica começar a sua vida profissional como timoneiro principal de um clube da grandeza e historial do Sport Lisboa e Benfica. A tarefa torna-se ainda mais complicada quando o momento para começar o projecto acontece numa altura em que o Benfica lutava para "… não perder jogos".
A páginas tantas, Mourinho viu-se na contingência de se tornar um treinador a prazo, aliás a muito curto prazo, quando Manuel Vilarinho ganhou as eleições e definiu Toni como seu treinador.
A atitude do inexperiente técnico foi sensata. Ou lhe davam mais um ano de contrato ou… ia embora.
A solução encontrada foi a mais inteligente e, ao mesmo tempo, admirável. Após derrotar o então campeão Sporting por esclarecedores 3-0, Mourinho pediu a demissão. A equipa, a melhorar a olhos vistos, voltou a ser aquilo que era: um "amontoado de jogadores sem cultura táctica".
O próximo desafio revelou-se esclarecedor da forma de ser e estar de Mourinho. À frente de uma frágil União de Leiria, José Mourinho logo demonstrou de que forma gostaria que a sua equipa jogasse. Virada para o ataque, jogando com dois avançados e discutindo o resultado fosse qual fosse o adversário. No pouco tempo que lá esteve, Mourinho conseguiu a melhor classificação de sempre na história da União de Leiria.
Por outro lado, a turma das margens do Liz era vista como um adversário temível e, em muitos casos, favorita à vitória final.
O sucesso estava garantido. Num ápice, Mourinho foi para o Futebol Clube do Porto e limitou-se a ganhar tudo o que havia para ganhar. Hoje em dia, Benfica, Sporting e Leiria suspiram por não terem conseguido ora manter ora conseguir os seus serviços.
A questão fundamental a que eu gostaria de chegar era precisamente a filosofia de jogo que o Beira-Mar, minha modesta opinião, deveria adoptar seja qual for o seu adversário. O sucesso só se conquista com audácia, coragem, sacrifício e muito trabalho. Não tenho qualquer dúvida que o Beira-Mar seria um clube com maior prestígio e palmarés se jogasse de peito aberto e sem receios de perder por muitos. A filosofia de ataque deveria ser assumida e posta em prática para bem do espectáculo e na conquista de vitórias.
Tal com o noutras áreas, também o futebol sofreu uma evolução precisa e consistente. Goste-se ou não da pessoa, Mourinho encarna na perfeição a mudança há muito desejada no futebol português.
Já não existe espaço nem tempo para, numa SuperLiga, haver equipas a praticarem um fio de jogo em que a conquista de um pontinho seja sinónimo de vitória.
Sejamos ousados e ambiciosos de acordo com a tradição e personalidade dos aveirenses. O princípio pode ser, por exemplo, já neste Domingo frente ao Rio Ave.
O Próximo jogo
Já lá vão alguns anos desde que vi, pela última vez, um jogo do Beira-Mar fora do Mário Duarte. A época não sei, com precisão, qual foi. Mas recordo-me que o local foi o estádio do Sporting Clube de Braga e o resultado foi de 2-0 favorável aos bracarenses. Na equipa do meu clube alinharam, entre outros, o Dino, o Zé Ribeiro e… António Sousa.
Acedendo a um amável convite dos Ultras Auri-Negros, Domingo marcarei presença no Estádio dos Arcos. Lá estarei, tal como a claque, a "puxar" pelo Beira-Mar.
Aliás, e recorrendo um pouco à história, recorde-se que o último embate entre estas duas formações, em Vila do Conde, aconteceu na memorável época 1998/99 (memorável pela via da conquista da Taça de Portugal pelo Beira-Mar).
Estávamos na 9.ª jornada no dia 1 de Novembro de 1998. O clube aveirense foi o primeiro a inaugurar o marcador logo à passagem dos 15 minutos por intermédio de Simic. Mesmo em cima do intervalo, Alércio estabeleceu a igualdade que se manteve até final da partida.
Os treinadores eram os mesmo que se vão sentar neste fim-de-semana. Esperemos que o Beira-Mar regresse a Aveiro com os três pontos na bagagem.
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