CARTA ABERTA A MANO NUNES (E SEUS PARES)
Meu caro amigo:
Peço-lhe que me inclua entre os muitos sócios que têm assistido incrédulos a toda esta controvérsia que envolve o nosso Beira-Mar, a EMA e a Câmara Municipal de Aveiro. Note que quem lhe dirige esta simples missiva é um mero leigo na matéria e que, por via disso, não conhece os tão propalados protocolos celebrados entre as partes cujo incumprimento dos mesmos, ao que tem vindo a ser público, legitima todo este folclore. Aliás, não é a mim nem aos sócios anónimos que compete conhecer todos os trâmites desta questão. O que nos preocupa é, isso sim, a imagem que passa para o exterior e que denegride tanto o clube como a própria cidade de Aveiro.
A verdade, meu caro amigo, é que desde o início do novo Estádio que o Beira-Mar parece um autêntico intruso, um verdadeiro estranho numa infra-estrutura que lhe deveria pertencer por direito próprio. A obra não nasceu para serem disputados apenas e só dois jogos referentes ao Campeonato da Europa de futebol. Seria megalómano que assim fosse. O que justificou tantos gastos do erário público foi o facto de em Aveiro existir um clube de primeira divisão chamado Sport Clube Beira-Mar. E, julgo eu, é aqui que reside o cerne da discórdia: aquele Estádio, bem ou mal localizado, ergueu-se para o Beira-Mar. Nada mais!
Acontece que, infelizmente, poucos são os sócios, ou adeptos, que se sintam completamente satisfeitos com a mudança do clube para o novo Mário Duarte. A transferência, logo no início da segunda volta da temporada passada, deu-se num momento pouco propício. Quem não se lembra do excepcional momento de forma em que se encontrava o Beira-Mar, uma equipa a lutar por um lugar na Taça UEFA? A mudança revelou-se desastrosa: relvado em péssimas condições e desaires atrás de desaires. Em cada jornada que o nosso clube actuava ali, era um verdadeiro suplício. Dava a nítida sensação que quem jogava fora de casa éramos nós e não o nosso adversário. Na minha modesta opinião, possivelmente, seria preferível continuar a actuar no velhinho Mário Duarte até ao final do campeonato e no início desta temporada, ai sim, com alguma pompa e circunstância rumar de armas e bagagens para o novo palco.
Não há dia que passe sem que, num qualquer órgão de informação, este fatigante tema seja motivo de reportagem. Já ninguém aguenta. Basta o meu caro amigo, e quem de direito, tenha a humildade de ouvir os sócios para perceber o quanto já chateia esta polémica. Esta constante troca de argumentos insultuosos entre a direcção, que o meu amigo superiormente dirige, a EMA e a Câmara Municipal de Aveiro só nos permite chegar a uma conclusão: alguém está a faltar à verdade! Os sócios e adeptos exigem saber a verdade. Nós não existimos apenas para pagara quotas e comprar bilhetes, cujos preços aumentam como o petróleo, e ficarmos calados. Aqui não existem "paus mandados". O meu amigo alega que o clube é credor de 11 meses de subsídios camarários, mais cinco meses em atraso das participações da EMA. Do outro lado, foge-se à questão a "sete pés" com palavras de solidariedade para com a administração da EMA. Afinal, em que ficamos? Se, e como acredito, existe uma falta de compromissos financeiros que tanta falta faz ao clube e, ainda por cima, o Beira-Mar acarreta despesas exageradas na organização dos jogos no novo Mário Duarte, porque raio continuamos a jogar lá? Eu só posso concluir uma coisa: existe uma certa falta de coragem em voltar ao velhinho e cada vez mais saudoso Mário Duarte. Será assim, presidente?
Quero que saiba que compreendo bem a sua delicada situação, mas lembre-se que os sócios o elegeram para liderar com eficácia os destinos do nosso clube. E neste preciso momento, é minha forte convicção que estamos a ser muito mal-tratados pela utilização do novo equipamento.
Com tudo isto, meu amigo, lanço-lhe um desafio simples e que, pode estar certo, iria de encontro ao anseio da maioria dos sócios e adeptos: de uma vez por todas ponha a equipa a actuar no nosso velhinho Mário Duarte. Faça o que tem a fazer e coloque o "nosso", sim o nosso Estádio operacional. Vai ver que já no jogo frente ao Gil Vicente iremos reviver os momentos de glória com as bancadas repletas de espectadores. Ouça todos aqueles que gostam, efectivamente, do Beira-Mar e conclua se, de facto, a maioria não quer voltar a ver jogos no velhinho Mário Duarte.
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